sábado, janeiro 02, 2010

Bomba Relógio


Cá estou eu... desta vez não com um teclado, mas com uma folha rudimentar e uma simples caneta azul, de ponta metálica...
Mais uma vez embrenhada nos meus sonhos... nos meus pensamentos... desejos...  incertezas... palpitações...
Palpitações como as que senti ontem à noite.... depois da meia noite tão desejada por multidões.... por meio mundo...  porque a outra metade já a havia sentido...
Deitada...  isolada... forçando um sono que  não existe... que deveria existir... ali estava...  a ouvir a minha bomba relógio... o tic-tac desesperante... cada bombada... cada golfada de sangue que jorrava das suas aurículas pelos tricuspides cruzamentos de feixes melancólicos, vermelhos e sumarentos de sonhos e pesadelos...
Futuro à frente das orbitas encarceradas na fronte desfeita por desgaste e secura, desidratação...
Carne seca e apodrecida à mercê dos abutres da vida que rondam sedentos do suco rejuvenescido... enriquecido pelo desprezo alheio...
Estirada... nervo... cartilagem... rede de fibras entrelaçadas por linhas energéticas com voltagem limitada... sem força... desmagnetizadas como a vida... sem química... sem filamentos voltaicos... subtraída de tudo... somada a mais um desperdício humano...
Fruto sem polpa... soro simples da verdade ignorada...
Amargura... desprezo... infinita tristeza cultivada ao longo de décadas... enraizada à estrutura óssea... ao cálcio... ao tecido esponjoso... a todos os tegumentos... a todos os eritrócitos bombeados por aquela bomba relógio...

Sem comentários: